Assim como as invasões históricas dos vikings na Europa Continental no século VIII, essa civilização invadiu as mídias de entretenimento e criou um gênero novo entre as séries. Tendo conquistado um público amante de batalhas, heróis improváveis e reinos medievais.
Um percursor desse gênero é a série Vikings, lançada em 2013, pela emissora History, e que acompanha o viking Ragnar Lothbrok, que com gosto em desbravar o desconhecido viaja em rumo a novas terras até desembarcar na Inglaterra, encontrando lá uma grande terra rica, para obter recursos, constituir um novo lar e governar.
Nessa época a série pegou a onda de gosto por períodos medievais dos fãs de Game of Thrones, que estava em sua terceira temporada naquele ano. O que de alguma forma ajudou no crescimento de Vikings, visto que era uma opção de série a se ver durante o hiato de GoT. O público logo percebeu que eram séries bem distintas, enquanto uma se passa numa terra medieval fictícia, com magias e dragões, Vikings trazia uma história mais realista e elementos históricos, chamando uma atenção maior para o que antes era desconhecido por alguns e passaram a ter oportunidade de embarcar na cultura nórdica.

Seguindo esse gênero logo depois veio The Last Kingdom, uma série produzida pela BBC, baseada nos livros de Bernard Cornwell, As Crônicas Saxônicas. Que narra a história de Uhtred de Bebbanburg, um nobre nascido na Inglaterra que na sua infância foi capturado pelos vikings e criado para se tornar um guerreiro como um deles. Ao longo da sua jornada ele passa a lutar com eles tentando conquistar toda Inglaterra, mas as traições e trocas de poder entre o povo que o criou colocaram Uhtred em um dilema, lutar ao lado dos vikings para conquistar os reinos ou voltar a sua origem inglesa e lutar para expulsa-los.
Essa série, assim como em seus livros, mistura figuras e momentos reais da época com alguns personagens fictícios, mas que direciona para todos acontecimentos marcantes da história real dos vikings. Logo após sua primeira temporada lançada uma das produtoras da BBC desistiu da produção, mas a Netflix acabou resgatando a série, e passou a ser co-produtora tendo os direitos de lançamento direto em sua plataforma. Com essa divulgação a série passou a ter um número maior de público. Embarcando em mais uma história de invasões vikings que iam adquirindo cada vez mais fãs.
Um dos pontos nas histórias dessas séries é como elas fogem de séries clichês, totalmente ficcionais, e provocam uma quebra de eixo trazendo mais realidade aos acontecimentos, o que prende o espectador na série. O público dessas séries, de imediato, começa a acompanhar um gênero de brigas de espadas, machados e escudos, o que agrada muitos amantes de batalhas e guerras, mas acabam ficando também pelas tramas e reviravoltas, trocas de comando, alianças, feitas de maneiras mais inesperadas e brutas, uma característica da violência viking.

Em Vikings, com o avançar da série percebe-se que não existe só Ragnar como o grande herói e personagem principal, mas que outros também são explorados e possuem condições de estarem no controle do poder. Isso alimenta uma torcida entre os fãs, para ver quem é que vai governar e quem irá tentar contestar, criando-se uma batalha atrás da outra, algo que atrai bastante a atenção. A possibilidade de mudança faz fugir um pouco do velho roteiro, onde o herói terá seus problemas resolvidos e vai prevalecer no fim.
Em The Last Kingdom, mesmo acompanhando um personagem principal, ele acaba passando por dificuldades que envolvem todo um conjunto, são apresentadas batalhas, tanto físicas quanto religiosas, um ponto bastante importante, pois isso impacta em como os povos tem uma divisão muito além do interesse de conquista, criando toda uma trama política e de poder, que mais uma vez vai gerar complicações e instabilidade nos reinos.
Esses plot-twists nas histórias, batalhas sangrentas e controle sobre os reinos, são o que trazem uma história interessante que chama seu público para acompanhar criando uma tendência que acabam adquirindo o gosto pelos os que assistem. E a história dos guerreiros vikings, em todo momento, se torna um prato cheio, desde sua busca por novas terras, a audácia de suas atitudes, conquistas de reinos e permanência no poder.

As batalhas sangrentas também são um ponto de bastante destaque. O método viking, de priorizar o machado e escudo, e não poupar na violência, tornam a batalha algo novo de se ver. Muitos filmes e séries retratam lutas em seu padrão mais original, escudo e espada, armaduras, cavalaria e arqueiros. Embora os vikings também usassem alguns desses métodos, a mostra da Parede de Escudos nórdica, torna-se algo inédito em séries. Retratando mais a força bruta, ponto diferente desses guerreiros, que amavam o campo de batalha, que não estavam ali apenas para defenderem ou tomarem algo, mas que queriam guerrear.
Guerras que mostram também como essas séries estão dispostas a investir nesses pontos e entregam ao espectador cenas bastante convincentes, o que alimenta o gosto pela ação. Uma força bruta que é mostrado também no modo como eles tratavam seus inimigos, em ambas produções a violência é bem explicita, além de ter muito sangue, com castigos sofridos e mortes brutais, o que ajuda também no retrato de que eram um povo bárbaro em suas batalhas. Algo que chama a atenção do público que embora possa estranhar no início tais métodos, acabam entendendo que essa era a possível realidade deles, e isso sai um pouco do paradigma do guerreiro limpo, que vai vencer sua guerra tranquilamente.
Mas mesmo com o uso da barbaridade em batalha, as séries os colocam muito mais como um povo estratégico, do que loucos de guerra. E mostram que são uma civilização que estão ali na história para dominar, para embarcarem em seus barcos e conquistarem terras e reinos. E isso traz uma jornada para cada personagem que envolve o público que gosta de aventuras e descobertas.
Embora com muita ação e política, as séries trazem um pouco de mitologia e misticismo desse povo. Embora não mostre criaturas e espectro mitológicos nórdicos, mostram como esse povo era altamente religiosos, devotos de seus próprios deuses, adorando Odin, o pai de todos, que é uma inspiração de batalha, sempre citando-o como um líder numa batalha pós-morte. Outro elemento mostrado nas séries são os dons da previsão, que por meio de videntes, os guiam para tomadas de decisões e que interferem diretamente em batalha e no rumo como a trama acontece.

E toda essa história e aspectos de conquistas vikings estão desbravando outro tipo de mídia, agora protagonizando o mundo dos games. A série Assassin’s Creed, terá a civilização nórdica como tema, intitulado Assassin’s Creed – Valhalla. Essa série de jogos já explora as guerras e momentos marcantes da história da humanidade em seus jogos, e agora encontra na invasão viking um cenário grande a se explorar e criar um jogo que atinge os requisitos de sua franquia. Tomando como base as suas conquistas, suas guerras, navegações pelos mares em grandes embarcações vikings, que são uma característica desse povo, visto que suas explorações marítimas estão presentes nas evidências históricas.
O gênero guerra-viking pode estar fortificando as raízes já criadas no mundo do entretenimento. Sua abrangência já se encontra bem presente no gosto do público que gosta de ver essas histórias, acompanhando ali uma realidade vivida na época, que cria uma atenção fixa no que os vikings estariam dispostos a conquistar e como lutariam por isso. E o forte leque de batalhas e decisões de guerras em toda sua história, deixam os amantes dessa ação muito satisfeitos.
Uma prova de que essas produções vêm gerando um bom resultado, e que elas não pretendem encontrar um fim tão cedo. Embora Vikings esteja caminhando para a sua última temporada, uma série derivada já foi encomendada, Valhalla, será uma continuação direta da série, mas se passando 100 anos depois. E The Last Kingdom já se encontra com planos de renovação para uma quinta temporada. Mostrando que o gênero e as batalhas sangrentas dos vikings ainda vão estar presentes no entretenimento de muitos e serão motivos de muitos episódios a serem assistidos.