O Crush Perfeito é o novo reality show da Netflix, adaptação de “Dating Around”, também do streaming. A proposta é sair dos aplicativos de relacionamentos e conhecer o par ideal, através de um encontro às cegas. Cada um dos seis personagens saem para cinco encontros noturnos. Se gostarem, podem eleger uma pessoa para um segundo encontro, dessa vez diurno, pelas ruas de São Paulo.
Os personagens desse reality são bem individuais. Cada um tem uma personalidade, uma característica e até orientação sexual diferente – bem como os seus futuros pretendentes. As narrativas audiovisuais de hoje precisam se comprometer com alguma coisa pelo menos para gerar um pensamento crítico em quem assiste. Embora reality não seja ficção, O Crush Perfeito acerta em aliar edição e diversidade para brincar com a narrativa e nos manter entretidos por 30 minutos – mas não mais que isso.
Altos e baixos: como reinventar um reality show?
Em alguns episódios o final não é nada previsível, e isso gera um espanto em quem assiste. Por outro lado, algumas escolhas não parecem fazer o menor sentido. Como não é possível saber o rumo do segundo encontro, é necessário ficar na expectativa de ir nas redes sociais dos participantes e descobrir quem está se relacionando com quem.
Ainda falando da edição, onde ela certa, ela também erra. A maneira proposital de colocar os protagonistas com a mesma roupa e fazê-los frequentar os mesmos restaurantes e ruas torna tudo mais dinâmico. Porém, é nítido que alguns participantes são favorecidos pela edição e outros não parecem ter a chance de se mostrar um pouco mais. Com isso, é fácil influenciar o público a torcer por um pretende específico, independente de se frustrar ou não com a escolha final.
Dito isso, como é possível reinventar um reality show? Como não cair no ritmo maçante de apresentar jantares chiques e pessoas superficiais? Como criar uma conexão com o público que atenda a todas as idades? Só tem uma fórmula: criar representatividade e mostrar transparência por fora de uma tela de celular.
Batendo nessa tecla, a diversidade é o que nos mantém presos no programa e ajuda a ignorar pequenos erros. A possibilidade de se identificar ali é enorme. Desde o gay afeminado, que se orgulha disso, ao gay padrão. A jovem paulistana recém formada que não sabe o que fazer da vida e a mulher de 50 anos, fotógrafa, com filhos adultos e muito bem resolvida.
A quebra com os relacionamentos líquidos em O Crush Perfeito
Por outro lado, nessa era de relacionamentos líquidos, e também no meio de uma pandemia, o toque, o olho a olho, o papo descontraído foi deixado de lado. O reality nos desperta a saudade de um bom date com alguém (foi gravado antes do coronavírus), como também se desprende do papo superficial das telas de celulares.
É necessário conversar para conhecer quem está ali. Afinal, nada foi dito sobre a outra pessoa, nem sobre o físico, tampouco sobre os gostos, costumes e valores. É na conversa que ocorre a identificação para o segundo date. Cada episódio consegue seguir por um caminho, uma vez que são personagens completamente diferentes – e isso torna os episódios dinâmicos.
Apesar de ter esses pontos positivos, o reality não consegue ir além. Todos os episódios são iguais e conseguem entreter por um momento, mas é fácil de esquecer e não gera apego pois não se aprofunda nas vivências pessoais de cada um.
Não se aprofundar é a proposta do reality, então se você gosta de uma coisa mais dramática e profunda, talvez O Crush Perfeito não seja a melhor escolha. Esse formato de programa, superficial e rápido, não parece valer a pena ser revisto, mas talvez sustente uma segunda temporada apostando ainda mais em diversidade.
Confira o trailer de O Crush Perfeito:
Se depender de mim ninguém vai ficar sozinho. O Crush Perfeito, meu novo reality de paquera, estreia dia 10 de julho. E como não sou boba nem nada, também já garanti pro ano que vem as versões brasileiras de Brincando com Fogo e Casamento às Cegas. ??? pic.twitter.com/1wCmPG1p4b
— netflixbrasil (@NetflixBrasil) June 12, 2020