O documentário ‘Escola Base – Um repórter enfrenta o passado’ estreia nesta quinta-feira (10), no Globoplay.A produção revisita o caso de uma falsa acusação de abusos de crianças e seus desdobramentos na vida dos envolvidos. Tendo como fio condutor o jornalista Valmir Salaro, um dos personagens envolvidos no caso.O Séries Brasil esteve no lançamento e acompanhou de perto o resultado do projeto. O evento reuniu jornalistas, Ricardo Shimada, filho dos proprietários da Escola Base e Paula Milhim Alvarenga, professora e sócia da escola.
O Caso Escola Base
O caso da Escola Base se tornou um escândalo nacional em 1994, após uma denúncia de abusos e pornografia infantil envolvendo crianças de quatro anos dentro da própria escola vir a tona. O casal Icushiro Shimada e Maria Aparecida Shimada, proprietários da Escola Base, Paula Milhim Alvarenga, sócia e professora, e seu marido Maurício Monteiro de Alvarenga – que realizava o transporte das crianças – foram acusados publicamente e perseguidos pela opinião pública.
A revolta da população, provocada pela cobertura na imprensa, fez a vida dos acusados virar do avesso antes mesmo do inquérito policial ser encerrado. Apesar das acusações dos pais dos alunos e do primeiro delegado responsável pela investigação, o aprofundamento da apuração mostrou que os acusados eram inocentes.
O erro transformou o caso em objeto de estudo e discussão quase que obrigatória em cursos de Jornalismo e Direito.
O Documentário
Com uma reportagem no Jornal Nacional, Valmir Salaro foi o primeiro repórter a noticiar a acusação. Vinte e oito anos depois, ele procura as vítimas da injustiça e fica frente a frente com elas: os antigos donos da escola, seus descendentes e outros personagens dessa história revisitada no documentário ‘Escola Base – Um repórter enfrenta o passado’, dirigido por Eliane Scardovelli e Caio Cavechini, disponível no Globoplay.
“Vou voltar para uma história que há 27 anos me atormenta”, declara o jornalista no documentário, um projeto do próprio Valmir Salaro e do jornalista Alan Graça Ferreira, seu amigo e colega em pautas no ‘Fantástico’.
“Desde que eu soube que aquelas pessoas eram realmente inocentes, eu passei a falar sobre o caso e era uma voz solitária. Sempre sou convidado para falar sobre o assunto em faculdades de jornalismo. E, em viagens, o Alan foi me convencendo que isso podia ser transformar num documentário”, explica Valmir, com 42 anos de experiência no jornalismo investigativo.
“Eu vejo nesse documentário um tributo ao jornalismo. Num momento em que a imprensa é tão atacada, ter um jornalista consagrado que abre o peito para discutir um episódio desta relevância sem filtros, aproxima o jornalista das pessoas”, acredita Alan.
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Eliane Scardovelli e Caio Cavechini foram convidados para dirigir a produção, aprovada em plena pandemia. Valmir revelou que guardava há 27 anos e que nunca tinha lido uma dedicatória escrita em um livro que recebeu de Maria Aparecida Shimada, uma das proprietárias da Escola Base, junto de uma carta escrita por ela de próprio punho. E que estava disposto a ler, diante das câmeras, estas palavras pela primeira vez. Jovens jornalistas, os dois diretores se viram no desafio de fazer um documentário que ouvisse os personagens centrais dessa história sem julgamentos.
“Quando a gente discute Escola Base na faculdade, a gente pensa: ‘Olha, como a imprensa pode impactar a vida das pessoas’. Mas quando você está ao lado do repórter que fez a primeira matéria percebe o desafio que é compreender todas as circunstâncias que resultaram no erro”, diz Eliane.
Além das discussões sobre o exercício do jornalismo, Caio explica que também procurou exercitar a empatia na produção.
“A discussão não é tão simplista. Existe uma frase que é meio clichê que diz ‘se coloca no meu lugar’ e fazer jornalismo requer esse exercício de se colocar no lugar das pessoas que a gente está retratando. Ao se colocar no lugar do Valmir, a gente se fazia essa pergunta em várias ocasiões. Com os elementos que ele tinha, será que não era pra dar aquela história? O que exatamente ele poderia ter feito naquela situação? É uma discussão mais complexa do que dizer ‘era uma acusação falsa e a imprensa levou essas pessoas à tragédia”, diz Caio.
Roteirista do documentário ao lado de Eliane Scardovelli, Bruno Della Latta entrou no projeto a partir do sim de Valmir Salaro para Alan Graça. E ele celebra ter acompanhado a transformação do colega para o antes e depois da produção. “O objetivo, que acredito ter sido alcançado, é mostrar que o Valmir da primeira imagem do filme não é o mesmo Valmir que aparece antes de subirem os créditos finais”, atesta Bruno.
Original Globoplay, o documentário ‘Escola Base – Um repórter enfrenta o passado’ tem roteiro de Bruno Della Latta e Eliane Scardovelli, que também dirige o dirige a produção ao lado de Caio Cavechini, e reportagem de Alan Graça Ferreira e Valmir Salaro.
Nossa opinião sobre o Documentário
Apesar de revisitar um caso antigo e ser mais atrativo para um certo público, a produção é, sem dúvidas, relevante e necessária.
Podemos relacionar o documentário com um recorte atual em nossa sociedade: a alta circulação de Fake News e as consequências da chamada “Cultura do Cancelamento”.
A produção causa impacto não apenas pelos depoimentos emocionantes dos envolvidos, mas também pela forma que aborda a participação da imprensa no caso. Mais que um pedido de desculpas ou uma redenção para Valmir Salaro, o documentário navega através de mágoas, traumas, injustiças e perdão.
O público tem o privilegio de sentir o peso carregado pelas vitimas, seus descendentes e Valmir, com toda a qualidade cinematográfica do Globoplay.
Nota: 8/10
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