27 de janeiro de 2013. Há exatamente 10 anos o Brasil vivia uma das suas maiores tragédias. Um incêndio durante uma festa em uma casa noturna em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, matou 242 pessoas e deixou mais de 600 feridos, a maioria jovens universitários. A incansável luta por Justiça dos sobreviventes e dos pais das vítimas é o mote da série documental ‘Boate Kiss – A Tragédia de Santa Maria‘, prevista para estrear no Globoplay no dia 26 de janeiro. Em cinco episódios, a produção refaz, passo a passo, a sucessão de acontecimentos que levaram à morte de tantos jovens e mostra as reviravoltas de um processo judicial cujo desfecho permanece imprevisível.
O Séries Brasil já assistiu os dois primeiros episódios do documentário e através dessa crítica te conta mais sobre o que esperar.
Não tem como não se emocionar com os depoimentos dos familiares e sobreviventes
Sempre que um filme, série, podcast ou documentário sobre algum crime é lançado, as pessoas tendem a se incomodar, pensando que isso só irá desrespeitar as vítimas e trazer algum tipo de atenção positiva para os culpados. Porém, isso não acontece em Boate Kiss – A Tragédia de Santa Maria.
A presença de vários sobreviventes e familiares, torna tudo ainda mais real. É de fazer o telespectador ficar em prantos com tamanho horror sofrido pelos estudantes no fatídico dia.
No primeiro episódio, uma das cenas mais marcantes envolve Sérgio Silva, pai de Augusto Silva que faleceu na boate. Em uma reunião com o prefeito e a promotora, em nome da Associação dos familiares e vítimas e sobreviventes da tragédia de Santa Maria, ele perde o controle de suas emoções e declara: “Vocês não entendem!“.
É uma dor imensurável, mas completamente visível. A série é conduzida e dirigida pelo repórter da TV Globo Marcelo Canellas, que passou a infância e a adolescência em Santa Maria, tendo se formado na mesma universidade federal onde boa parte das vítimas estudava.
Acredito que é exatamente por conta dessa ligação que vemos o cuidado na direção e no trato das informações, não é algo sensacionalista.
O julgamento do crime na Boate Kiss e os dois sentimentos dos sobreviventes
O segundo episódio é um soco no estômago. A história e o depoimento de Kelen Ferreira são impressionantes. Ela teve 18% do seu corpo queimado e amputou um pé, em decorrer do incêndio.
“Correr eu não consigo mais. A última vez que eu corri foi pra tentar me salvar da morte.” relata a sobrevivente de 28 anos.
Ainda no julgamento, a sobrevivente Jéssica Rosado, que perdeu seu irmão naquela noite, confessa que não tem nenhum sentimento negativo para com os réus: Luciano Bonilha Leão, produtor da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos, músico do grupo, Elissandro Spohr e Mauro Londero Hoffmann sócios da Boate Kiss.
Esse depoimento não bateu bem para os sobreviventes, como Gabriel Barros e Kelen Ferreira, que se sentiram invalidados e afirmam que não são representados pelo que foi dito por Jéssica.
É uma série documental forte, porque mostra a realidade. Vale a pena assistir para conhecer a história, para entender a dor.
‘Boate Kiss – A Tragédia de Santa Maria‘ é uma parceria com a TV OVO, coletivo de audiovisual de Santa Maria, e tem roteiro de Fernando Rinco e Gabriel Mitani, direção de produção de Clarissa Cavalcanti e produção de Andrey Frasson. A série original Globoplay estará disponível na plataforma a partir do dia 26 de janeiro.
Por memória, por justiça. Para que não se repita.