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FICHA TÉCNICA
Título: Ainda Estou Aqui (I’m Still Here)
Classificação indicativa: +14 anos
Gênero: Drama e Suspense
Duração: 2 horas e 16 minutos
Direção: Walter Salles
Elenco: Fernanda Torres, Selton Mello, Fernanda Montenegro, Luiza Kosovski, Guilherme Silveira, Maria Manoella, Barbara Luz, Cora Mona, Pri Helena, Humberto Carrão, Dan Stulbach, Marjorie Estiano, Antonio Saboia, Valentina Herszage, Gabriela Carneiro da Cunha, Olivia Torres
Sinopse oficial: Rio de Janeiro, início dos anos 1970. O país enfrenta o endurecimento da ditadura militar. Os Paiva — Rubens, Eunice e seus cinco filhos — vivem na frente da praia, numa casa de portas abertas para os amigos. Um dia, Rubens é levado por militares à paisana e desaparece. Eunice, cuja busca pela verdade sobre o destino de seu marido se estenderia por décadas, é obrigada a se reinventar e traçar um novo futuro para si e seus filhos. Baseado no livro biográfico de Marcelo Rubens Paiva. Prêmio de Melhor Roteiro Veneza 2024.
TRAILER OFICIAL
CRÍTICA SEM SPOILERS
Como é gratificante poder viver na mesma época em que Fernanda Torres e Fernanda Montenegro estrelam um espetáculo do cinema brasileiro. “Ainda Estou Aqui”, sem dúvidas, era o meu filme mais aguardado do ano e não deixou absolutamente NADA a desejar. Se eu entrei na sala de cinema com as expectativas altas, saio com a sensação de que todas foram supridas e com muita vontade de assistir novamente. Confesso que não conhecia a história e nem li a obra de Marcelo Rubens Paiva, então não sabia o que me esperava. Desde os primeiros minutos do longa, a tensão toma conta do espectador devido o clima instaurado pela ditadura militar e permanece ao longo de todo o filme com o sofrimento da família Paiva diante do desaparecimento de Rubens Paiva, interpretado por Selton Mello.
O cuidado que a produção teve para recriar a atmosfera de um Rio de Janeiro, em 1970, é algo esplêndido e de se aplaudir de pé. Desde os figurinos, até os carros, cenários, músicas, a composição como um todo, são capazes de nos transportar para aquela época e nos proporcionar ainda mais a angústia em que viviam as pessoas e famílias inocentes todos os dias. Ter um nome como Walter Salles, diretor de “Central do Brasil”, é algo que por si só já chama muito atenção, mas ele tinha uma grande responsabilidade em retratar essa história, devido a complexidade da época e período assombroso do nosso país. Com a mistura da direção de Walter e o roteiro de Murilo Hauser e Heitor Lorega (vencedores do prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Veneza), não tinha como dar errado, resultando nessa bela obra de arte sendo aclamada mundialmente e com grandes chances de indicações ao Oscar 2025.
Eu não me canso de venerar e aplaudir a grande atriz que é Fernanda Torres. O filme propôs um grande desafio de representar a dramaticidade de uma matriarca torturada e que precisava vivenciar dia após dia o desaparecimento de seu marido. Não é a toa que Torres está em diversas pré-listas de indicação ao Oscar de Melhor Atriz. Seu trabalho foi sublime, delicado, verdadeiro, nos proporcionando cenas que nos deixam emocionados e com um nó na garganta.
O filme se encerra com Fernanda Montenegro interpretando a versão idosa de Eunice Paiva, que sofre com a terrível doença que é o Alzheimer. Mas, o mais impressionante nisso tudo, é que ela não tem nenhuma fala, mas pelo seu olhar ela consegue transmitir absolutamente todas as sensações e emoções para o espectador. Foi nesse momento que eu chorei. Se o Oscar fosse justo, ela já estaria em Melhor Atriz Coadjuvante garantida.
“Ainda Estou Aqui” é um filme necessário e que nos entrega uma família quebrada por sequelas da ditadura militar, essa que durou mais de 25 anos e até hoje assombra o nosso país e milhares de famílias que perderam entes queridos. Ao mesmo tempo, é uma homenagem muito bonita e dolorosa para Eunice Paiva, uma mulher guerreira e batalhadora que não poupou esforços para que a verdade viesse a tona, onde mais tarde se tornou um símbolo da luta contra a ditadura militar. Eunice Paiva conviveu com Alzheimer por 14 anos e morreu em 13 de dezembro de 2018, em São Paulo, aos 86 anos. Ainda Estou Aqui é um lembrete sobre a memória da família Paiva e todas as milhares de vítimas que passaram por esse período assombroso em nosso país. JAMAIS DEVERÁ SER ESQUECIDO!
Nota: 10/10