13 Reasons Why
pertenceu ao tipo raro de séries que já estrearam famosas. Com Selena Gomez como produtora e uma premissa curiosa, o buzz nas redes sociais em 2017 foi grande. A série foi lançada no dia 31 de março de 2017 e logo o sucesso se consolidou garantindo a renovação da série por mais duas temporadas.
Dessa forma, nos próximos meses foi praticamente impossível fugir das discussões que cercaram a série. De um lado, apoiadores que apreciaram a maneira realista que a série abordou temas sérios, como a depressão e o suicídio entre jovens. Do outro, pessoas que criticaram a maneira explícita como estes foram mostrados em tela.
O verdadeiro problema começou quando a Netflix anunciou a segunda temporada da série. O roteiro trouxe uma abordagem diferente e a série passou a se distanciar cada vez mais do propósito de Jay Asher ao lançar o livro homônimo. Com tramas voltadas ao suspense adolescente e cada vez menos responsabilidade, coube a última temporada tentar se redimir.
ATENÇÃO: O texto a seguir contém spoilers de todas as temporadas de 13 Reasons Why e possíveis gatilhos envolvendo depressão, ansiedade, suicídio e estupro.
13 Reasons Why: considerações gerais
Antes de mais nada, velhos hábitos são difíceis de largar. Então era óbvio que veríamos de novo o clichê de mistério presente desde o segundo ano da série.
De acordo com o trailer, o grande foco da temporada seria Clay (Dylan Minette) e seus amigos descobrirem quem fazia as ligações anônimas (bem no estilo “Scream”) ameaçando entregá-los pela mentira envolvendo o assassinato de Bryce. Porém, logo nos minutos iniciais, essa trama passa a competir com o mistério do personagem morto, mostrado por meio de flashfowards durante o início de alguns episódios.
Um ponto positivo da temporada foi a diminuição dos episódios. Desde o primeiro ano era visível o apego que os criadores sentiam pelo estilo de treze episódios, mas isso já vinha se mostrando insustentável visto que não havia mais de onde enxugar história. Então, tivemos uma história com 10 episódios de uma hora que ainda assim pareceram longos demais. Pelo menos nos primeiros 5 episódios a história se arrastava de tal forma que o único fator relevante para continuar assistindo é a vontade de encerrar a experiência – bem ruim – da série rápido.
Ainda assim, por ser o último ano, a série tentou tratar o máximo de temas possível. Essa pressa fez com que algumas histórias parecessem apressadas (Diego, é com você mesmo) e as conclusões nem sempre satisfatórias. De maneira geral, talvez a trama mais entediante foi a “busca por justiça” feita por Winston junto ao time de futebol.
Agora, vamos nos aprofundar em alguns pontos.
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Segurança Máxima
Dividido em 5 núcleos, esse episódio foi o verdadeiro ponto de virada. A partir daí a história real da temporada passou a ganhar destaque, abordando de forma mais direta a ansiedade de Clay.
Ao longo de 3 temporadas, vimos Clay tentando ao máximo esconder seus sentimentos e lidar sozinho com as questões que o afligiam. É óbvio que uma hora ele iria estourar, e isso acontece ao final da simulação de tiroteio.
Simultaneamente, observamos Tyler preso no banheiro da escola junto com Estela, a irmã mais nova de Monty. Estela foi uma grata surpresa. Mesmo não tendo muito destaque a personagem trouxe uma questão conflituosa: mesmo ela sentindo luto pelo irmão é visível o quanto ela sente pelas atitudes feitas por ele.
Não houve o tiroteio em si, mas a todo momento havia a tensão, levando os estudantes ao limite além de retratar o desespero dos pais e educadores ao não saber como proteger os estudantes de problemas que afligem sua geração.
13 Reasons Why é conhecida por seus episódios polêmicos. E embora este não seja tão violentamente gráfico quanto os das temporadas anteriores, pode ter sido o mais bem-sucedido ao tentar abordar de forma certa um tema sério.
A jornada de Alex
Um dos grandes focos da temporada (talvez um dos poucos bem trabalhados) foi a descoberta da sexualidade de Alex.
Durante a segunda temporada vimos o personagem lidar com as sequelas de sua tentativa de suicídio, e nesse cenário Zach foi seu principal apoio. Logo surgiu uma comunidade de fãs do possível casal, mas até o terceiro ano essa possibilidade parecia impossível visto que com a trama amorosa de Alex consistindo no triângulo amoroso com Jessica e Justin.
Contudo, logo no primeiro episódio da quarta temporada após Zach o salvar de cair de um prédio Alex beija o amigo, começando então a auto-descoberta do personagem.
Após um breve caso com Winston, Alex começa um relacionamento (muito fofo) com Charlie, que entrou para o grupo na temporada passada. Simultaneamente ao drama principal, acompanhamos o desenrolar do casal em momentos importantes, como na hora de contar para os pais e o baile de formatura.
Charlie foi, sem dúvidas, um dos melhores personagens da temporada. Sempre prestativo e gentil, era um dos poucos que dava vontade de ver em tela. A personalidade descontraída contrastava a de Alex, fazendo assim o casal ainda mais dinâmico.
Justin
Provavelmente o personagem mais querido dos fãs, Justin Foley (Brandon Flynn) teve um arco narrativo muito bem construído. Após anos de comportamentos destrutivos ele estava finalmente colocando sua vida nos trilhos: foi para a reabilitação, entrou em uma faculdade.
A princípio o observamos logo após a volta do centro de reabilitação, e talvez pela primeira vez ele parecia realmente bem. Com o desenrolar da história vimos a recaída que ele sofreu após descobrir da morte de sua mãe, além de seu romance conturbado com Jessica e o ciúmes que Clay sentia dele em relação a seus pais.
A família Jensen foi o grande suporte de Justin, oferecendo a ele possibilidades que ele nunca julgou ter. Nesse sentido, um grande foco da temporada foi o modo como a ajuda certa pode influenciar positivamente em uma pessoa, quando ela quer ser ajudada.
Por outro lado, a descoberta do HIV foi um choque que abalou toda a série. Após um episódio calmo sobre mudanças e amadurecimento tendo como pano de fundo o bale de formatura, a doença de Jusin trouxe de volta as discussões e temas mais pesados da série.
Justin foi o primeiro a receber as fitas e o responsável por iniciar a queda de Hannah. Sua morte no último episódio da série encerrou um ciclo de autodestruição construído desde o episódio piloto. Como resultado, sua trajetória de vida marcou a vida dos estudantes da Liberty High, deixando os personagens e os fãs com lembrança de seu sorriso.
Descanse em paz 13 Reasons Why
No mesmo local onde Clay escutou sua fita, é também o cenário onde os personagens se despediram de vez. O último episódio foi, simultaneamente, nostálgico e chato.
Com vários planos de tela feitos para lembrar a primeira temporada (os bons tempos), as fitas reaparecem após a mãe de Hannah enviá-las para Clay e Toni. Então, ele e os amigos decidem enterrá-las de vez. Sim, no sentido literal.
Após isso temos um grande nada! Literalmente o resto do episódio foi baseado em despedidas dos pais, planos pro futuro e soluções rasas para problemas grandes demais. O tom otimista do final parecia quase cômico quando lembramos que a morte de Justin foi a (literalmente) alguns minutos antes.
Depois de 4 anos polêmicos (sendo que três nem deveriam ter existido) 13 Reasons Why finalmente conseguiu encerrar sua história. Não da melhor maneira possível, mas quanto a isso só podemos aceitar e agradecer pela bênção de não sermos coroados com a surpresa de mais uma temporada de tramas bagunçadas com algumas mortes eventuais.
De maneira geral, o “descanse em paz” dito por Toni reflete o sentimento de todos que acompanharam o desenrolar dessa história até aqui: foi algo importante de onde tiramos lições, mas que mal podíamos esperar para que acabasse.