Em 2017, o criador da série “American Horror Story” (AHS), Ryan Murphy, postou em sua conta do Instagram uma fan theory que relacionava a série ao clássico da literatura “A Divina Comédia”, de Dante Alighieri. Nesta teoria, cada temporada foi relacionada a um dos nove círculos do Inferno de Dante.
Originalmente, apenas sete círculos estavam relacionados – o número de temporadas lançadas – mas com “Apocalypse” e “1984”, que vieram em 2018 e 2019, também se encaixando nesse contexto, a teoria ficou ainda mais forte. Agora com os nove círculos e nove temporadas podemos completar a ligação entre AHS e Inferno de Dante.
No livro “A Divina Comédia”, Dante percorre todos os círculos do Inferno, o Purgatório e chega ao Paraíso para encontrar com Beatriz, sua mulher amada. O Inferno existe em forma cônica, onde o espaço vai ficando menor a cada círculo. Quanto mais baixo você está, pior foi seu pecado na Terra e, consequentemente, pior é seu castigo eterno.
E vamos às relações (alerta spoilers!):
O primeiro círculo é o Limbo, onde habitam as almas dos não-batizados, ou daqueles sem fé. É o único nível em que não há uma punição física, apenas a consciência de que nunca chegarão à paz eterna do Paraíso, uma vez que estão presos ali. Temos aqui a relação com a primeira temporada, “Murder House“. Os espíritos dos mortos na casa nunca irão conseguir sair de lá e viverão em eterna angústia entre aquelas paredes, como é o exemplo de Nora Montgomery, Hayden McClaine e da família Harmon.
Os luxuriosos, aqueles que cederam ao prazer, vivem no segundo círculo e encontram sua relação com “American Horror Story” na nona temporada, “1984“. Com o envolvimento de Richard Ramirez, também conhecido como The Night Stalker na história, já entendemos o motivo da relação. O serial killer era famoso por abusar das drogas e ter prazer em matar e abusar sexualmente de suas vítimas. A temporada conta também com uma pitada de cenas de romances e relações intensas.
No terceiro círculo temos os gulosos, aqueles que nunca estão satisfeitos, o que nos leva ao Hotel Cecil, ou seja, à quinta temporada. Podemos relacionar aqui o desejo insaciável por sangue da Condessa, o vício em drogas de Sally McKenna ou a compulsão por assassinatos do primeiro dono do hotel, James Patrick March. E, pra sermos sinceros, a maioria dos habitantes do hotel tem suas próprias obsessões e manias.
Até agora fez sentido? Melhora!
Mais abaixo, no quarto círculo, encontramos os avarentos, aqueles que fazem tudo por dinheiro e riquezas. E temos a nossa (nem tão) querida Elsa Mars para personificar tudo isso. A dona do “Freak Show” abusa das peculiaridades de seus “freaks” para atingir a fama e conseguir seu tão almejado dinheiro e programa na TV.
O círculo dos irados, onde habitam aqueles que foram dominados pela raiva, é o quinto nível do Inferno e seu castigo é uma briga eterna entre aqueles que lá habitam. Em “Roanoke” conhecemos a Açougueira, que mata todos que resolvem “invadir” suas terras, ou seja, vive uma eterna guerra com qualquer um que insiste em habitar na casa de Roanoke, desde seu primeiro dono, o excêntrico colecionador de artes, Edward Philippe Mott.
É aqui, no sexto nível, que encontramos os hereges, ou aqueles que pronunciaram falsos deuses ou religiões, tema principal da sétima temporada, “Cult“. Kai Anderson, um jovem conservador, reúne pessoas para começar um novo culto e sua ideia de ir, aos poucos, se encaixando no cenário político para causar o caos e parecer como um novo salvador da população. Perfeito para que sua imagem seja “endeusada” e, assim, reverenciada.
No sétimo círculo temos os violentos, inclusive os violentos contra Deus, seus próprios e natureza. “Apocalypse” não poderia ter melhor significado. A história se desenrola em volta de um apocalipse, que depois descobrimos ser obra de Jeff Pfister e Mutt Nutter, ou seja, uma violência contra sua própria espécie (e por se tratar de explosões nucleares, também viola a natureza). Além disso, com reaparecimento de Michael Langdon temos o próprio Anticristo, o que nos leva à violência também contra Deus, englobando todos os piores tipos de violência expostos por Dante.
Respira, estamos quase lá.
O penúltimo círculo é onde vivem todos os tipos de fraudulentos. E, aqui, entramos na segunda temporada: “Asylum“. Sister Jude, diretora de Briarcliff, vende a ideia de que as pessoas serão salvas pela fé, quando na verdade sofrem torturas e castigos na instituição. Na maioria das vezes essas tormentas são através do Dr. Arthur Arden, o médico nazista que cria formas e químicas falsas para “ajudar” os pacientes. O manicômio é, basicamente, construído em cima de uma grande mentira.
E assim chegamos, finalmente, ao nono círculo onde vivem os traidores. Aqui habitam os que traíram seus parentes, seu país e seus benfeitores. A relação então é feita com a temporada favorita de muitos fãs de American Horror Story, “Coven“, por muitos aspectos; primeiro por Fiona Goode, a Suprema, ser capaz de matar bruxas do seu próprio clã e mentir para o Conselho para que não sofra as consequências. Depois pela relação de Cordelia com Hank, que é, na verdade um caçador de bruxas e quer apenas exterminar a ela e a suas “irmãs”. Podemos falar também de Madison Montgomery que tenta fazer com que Misty Day suma por ser muito poderosa e, assim, uma ameaça. No geral, as bruxas dessa temporada tendem a ser meio invejosas, já repararam?
Então, podemos ver que a teoria faz sentido dentro da série, por mais que aspectos de diferentes círculos sejam apresentados em todas as temporadas. O que nos resta saber é se chegaremos ao purgatório com a décima temporada, que já foi anunciada, ou se tudo isso era realmente apenas uma teoria – que bugou o nosso cérebro.