Título:
O ódio que você semeia
Título Original: The hate u give
Autor(a): Angie Thomas
Páginas: 378 páginas
Editora: Galera Record
ISBN: 8501110817
Valor Médio: R$ 34,00
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Antes de mais nada, você já deve ter ouvido falar desse livro em muitas listas de livros sobre empoderamento negro ou até mesmo através da adaptação para o cinema. Porém, você sabe da importância desse livro?
Inicialmente, muitas pessoas quando leem a sinopse de O ódio que você semeia (Galera Records, 2017) se perguntam se ele é narrado em primeira ou terceira pessoa. Nesse sentido, Angie Thomas foi verdadeiramente ousada e entrega para os leitores uma narração em primeira pessoa para um enredo sufocante. E entrega um ótimo trabalho, por sinal, estando em primeiro lugar na lista do New York Times.
Um estudo da ONG Mapping Police Violence aponta que, nos EUA, negros têm quase três vezes mais chances de serem mortos pela polícia do que brancos. – BBC News | Brasil.
A notícia publicada pela BBC News, traz à tona uma realidade vivida por muitas pessoas no “país da liberdade” e é nesse sentido que Angie mergulha de cabeça. O livro como já foi falado é narrado em primeira pessoa e mostra a visão de Starr Carter, uma jovem de 16 anos que presencia o assassinato de um de seus amigos pela polícia americana.
Inicialmente, O ódio que você semeia nos apresenta Starr como essa jovem negra de 16 anos que mora em um bairro periférico, visto com maus olhos por muitos e taxado de perigoso. Seus pais, buscando uma “melhor” educação para ela, mandam-na para uma escola particular em um bairro do subúrbio onde as pessoas são majoritariamente brancas. Logo depois, mas ainda no início do livro, Starr se encontra em uma festa do seu bairro, revendo muitos amigos que ela não costuma mais conviver e a narração conta para o leitor esse fato. Antes mesmo que pudéssemos conhecer mais um pouco dos personagens, um tiroteio começa e Starr precisa fugir do local com um de seus amigos.
Por fim, esse amigo chamado Khalil dá uma carona para Starr, mas no meio do caminho são parados por uma abordagem policial. Como de costume são pedidos os documentos etc, mas também como de costume, de uma forma muito mais brutalizada e desrespeitosa. Então, em uma movimento brusco feito por Khalil, ele é assassinado pelos policiais.
1014 pessoas foram mortas a tiros por policiais no EUA em 2019, e as principais vítimas foram americanos negros. – Jornal Washington Post.
Posteriormente, o livro já está no ápice da ação e nesse clima é que começamos a conhecer verdadeiramente e trama que vai se seguir pelo resto de O Ódio que Você Semeia. Starr se torna a única testemunha do crime e passa a viver uma dualidade interna. A personagem deve ser a voz de Khalil por justiça? Ou deve se calar e proteger a ela mesma e sua família?
Nesse sentido, o leitor começa a ver na narração algo como “Os dois lados de Starr”. De um dos lados a personagem vive essa trama de medo, indecisão e terror. Porém do outro, na escola de brancos, ela é uma menina comum na sua escola comum e vive sua vida sem preocupações.
O livro foi sem dúvida um dos maiores tapas na cara que eu já recebi e chega a ser sufocante em cenas como a do assassinato do Khalil. Nesse mesmo sentido, Angie Thomas faz o leitor ver e entender sobre os privilégios, principalmente os leitores brancos. Se torna um livro até desconfortável por tanta realidade nua e crua esfregada na nossa cara.
Um dos arcos que mais me incomodou no sentido de revolta, particularmente, foi o da família da Starr. A narração mostra todo o cenário da sua família, a construção de seu pai com filhos fora do casamento e é uma relação boa, uma relação amorosa e familiar. Porém, ao mesmo tempo vemos a criação de Starr e seus irmãos e como seus pais prepararam eles para aquele momento.
Não responda ao policial. Deixe suas mãos amostra. Não demonstre medo. Controle a ansiedade! A realidade de O ódio que você semeia.
O enredo assusta e choca pelo fato de ser uma realidade muito grande e mesmo com todas as instruções, Starr viu seu amigo Khalil ser assassinado. Esse momento me lembrou de cenas como em Grey’s Anatomy, na qual a personagem Bailey e seu marido ensinam seu filho a como lidar com policiais, estando com a mão na cabeça e afins.
Como resultado de toda essa narração incrível e chocante e a realidade crua trazida por Angie Thomas, O ódio que você semeia foi um dos melhores livros (se não o melhor) em primeira pessoa que eu já li na vida. Extremamente necessário e mais uma vez, extremamente real. Depois de terminar essa leitura, você com toda certeza vai precisar de uns dias para digerir esse livro!
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