Título:
Selva de gafanhotos
Título original: Grasshopper Jungle
Autor(a): Andrew Smith
Páginas: 352
Editora: Intrínseca
ISBN: 978-85-8057-685-6
Valor médio: 39,90
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Imagine uma adolescência conturbada, recheada de problemas, com os hormônios a flor da pele e descobertas que a cada dia tiram mais a inocência da infância. Conseguiu imaginar? Provavelmente sim, afinal de contas todos nós fomos adolescentes um dia e esse é o script básico do que nos acontece nesse período. Agora tente juntar a todas essas problemáticas o fato de você estar em dúvida se sente uma atração sexual mais forte pelo seu amigo ou por sua namorada e, além disso, ter de lidar com uma infestação de insetos alados gigantes devoradores de seres humanos. Se eu estou louco? Não. Mas provavelmente Andrew Smith estava ao ter essa ideia maluca para a produção de sua obra. Nesse clima de loucura e tensão, o autor cria uma metáfora perfeita do que é o período de erupção na adolescência.
Em uma cidade minúscula no interior do Meio-Oeste dos Estados Unidos, Austin Szerba é um adolescente em plena erupção. O garoto começa a descobrir seu corpo e sua identidade no meio da sociedade em que vive, e claro que isso envolve muitos questionamentos, dores, decepções, drama e tesão – muito tesão. Estando em uma cidade pequena e sem muitas opções, o rapaz se diverte como pode com seus amigos Robby Brees e sua namorada Shann – o que cria um triângulo amoroso confuso e dramático. A vida de Austin parecia seguir monotonamente até que sem querer ele e seu melhor amigo liberam uma praga responsável por fazer brotar insetos gigantes e comedores de gente saírem de dentro dos corpos dos indivíduos contaminados. É assim que a aventura começa e nosso protagonista tem de lidar tanto com os problemas da adolescência quanto com insetos enormes que ameaçam a sua vida e a de todo o país.
Se você ainda não fez careta até esse ponto da resenha, então provavelmente você deve ter uma cabeça tão criativa quanto a do autor. Que diabos de trama é essa? Foi isso o que pensei ao me deparar com o livro pela primeira vez. No entanto, essa é uma daquelas obras em que toda a criação insana que parece criar uma história totalmente fantástica, na verdade é um artifício artístico para deixar ainda mais latente e profunda as questões as quais se pretende abordar na narrativa. Adolescência, insetos gigantes que só pensam em comer e transar e um triângulo amoroso – que ignora a sexualidade dos envolvidos – representam de forma pungente esse universo juvenil da pós-modernidade. Isso se constrói no romance a partir da linguagem, que permite a construção de metáforas metodicamente pensadas e insere a sexualidade de forma ímpar.
É necessário se ter em mente que Selva de gafanhotos (Intrínseca, 2015) não se trata de uma fantasia ou ficção científica e sim, de um Young Adult. Ainda que os insetos gigantes sejam bem sugestivos para esses dois gêneros aqui eles não passam de um artifício artístico. Ou seja, seres famintos, os quais não param quietos e possuem um desejo constante por sexo e movimento constante são bem semelhantes com a realidade jovem. Em paralelo a essa metonímia criada pelos bichos, na medida em que a trama vai acontecendo, o protagonista retrata a história das suas antigas gerações o que se mostra ao longo do livro ter uma íntima relação com os insetos gigantes e com a as dúvidas e sentimentos dele. A percepção desses dois momentos da trama são essenciais para um entendimento mais pleno da narrativa como um todo.
A linguagem do livro consegue se aproximar da realidade juvenil de uma forma inacreditável. As gírias, os gestos, o pensamento… tudo está alinhado de uma forma quase inimaginável no romance – por diversos momentos senti como se os personagens estivessem dizendo ou pensando coisas da mesma forma que o fiz enquanto adolescente. Outro aspecto importante é como a sexualidade se mescla à linguagem. Em coisas simples o personagem observa um duplo sentido e tem fantasias sexuais a todo momento. Dá para sentir página nas páginas os hormônios dos personagens em ebulição. O livro é, portanto, despido de qualquer inibição para tratar de sexualidade. As páginas contêm exatamente o que os leitores da faixa etária a qual ele se dirige pensam e imaginam, e que muitas vezes se sentem sujos ou errados por isso – movidos por questões morais e religiosas presentes na sociedade.
O trabalho que Andrew Smith fez nesse livro é sublime. É óbvio o fato da leitura não agradar a todos por conta da linguagem tão franca e a sexualidade tão borbulhante. Apesar disso, é um retrato fiel de um período do nosso desenvolvimento. Devo admitir que o livro não foi só surpresas positivas, na verdade esperei um final diferente – tendo em vista a grandiosidade a qual o autor tinha em suas mãos com essa trama. Ainda assim, é um daqueles livros os quais todo adolescente em sua fase dramática, sexual ou confusa deveria ler.
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