Condenados pela Mídia
, que teve sua estreia na Netflix em maio de 2020, é uma série documental que discute a princípio a importância e influência da mídia em alguns dos mais comoventes e revoltantes julgamentos da história. A produção é composta por depoimentos de pessoas envolvidas nas ocorrências.
Definitivamente, quem recebe mais destaque são os advogados que compuseram a defesa, relatando detalhadamente as estratégias usadas por eles. Em mais de um episódio, o racismo explícito nos julgamentos é escancarado. A partir de agora o texto pode conter spoilers.
O Justiceiro do Metrô
O segundo episódio, intitulado “Justiceiro do Metrô”, refere-se a um dos casos mais repugnantes de racismo em um tribunal. Em dezembro de 1984, o americano Bernhard Goetz disparou simultaneamente contra quatro jovens negros que estavam no mesmo vagão do metrô que ele, em Manhattan.
Nove dias depois, após fugir da cena do crime, o homem se entregou para a polícia alegando legítima defesa e afirmando que estava sendo assaltado naquele momento. Barry Allen, Troy Canty, Darrell Cabey e James Ramseur tinham idades entre 18 e 19 anos e não estavam armados.
Precipitadamente, a mídia posicionou-se favoravelmente a Goetz, o que gerava empatia da população com o atirador, uma vez que a criminalidade em Nova York era altíssima e as pessoas se sentiam intimidadas. Nesse meio tempo, a Associação Nacional de Rifles da América colocava a imagem do “Justiceiro” como garoto propaganda.
O caso fez dele um “herói popular” para muitos nova-iorquinos, e existe uma referência ao ocorrido no filme Coringa (2019) onde Arthur Fleck, também no metrô, dispara contra três jovens brancos.
O Julgamento
Quando chegou o momento de depor, o “Vigilante do Metrô”, deixou claro que sua intenção era atirar para matar. Além disso, a frase “Você parece bem, tome outro tiro” foi usada por ele enquanto descrevia a sequência de disparos, além de dizer que seu problema foi não ter mais balas, pois teria atirado mais se pudesse. Em outras palavras, ele confessou sua reação exagerada, que estava repleta de racismo e intolerância.
Imediatamente, houve uma grande comoção e revolta da comunidade negra e uma série de protestos teve início na cidade. Clamando por justiça, centenas de pessoas faziam pressão em frente ao tribunal por vários dias, até que de fato fosse determinada uma sentença. Posteriormente, das treze acusações, Bernhard Goetz foi absolvido de doze, sendo condenado apenas por posse ilegal de arma.
Todas as testemunhas presentes no metrô testemunharam a favor dele, dizendo que os garotos se portavam como bandidos. Enfim, é importante lembrar que o júri foi composto inteiramente por brancos, que julgavam irrelevante a cor das vítimas para a condenação.