O cinema é um mercado extremamente interligado, visto que desde a produção até a distribuição de um filme centenas de pessoas estão envolvidas.
Nos tempos modernos com a facilidade de acesso a internet e a serviços de streaming o público das salas diminuiu, sendo mais seletivo na hora de escolher o que assistir. Embora ainda haja aqueles que preferem a experiência de assistir a um filme na telona a grande maioria opta por permanecer em casa utilizando os já citados serviços e (principalmente) economizando o dinheiro do ingresso.
Aliado a isto é inegável a forma como os grandes estúdios, de maneira geral, abafam as produções menores. É preferível arcar com os custos de produção de um longa mais “comercial” sabendo que o lucro subsequente será muito maior do que apostar em ideias novas.
Essa realidade faz com que seja ainda mais preocupante o impacto do novo coronavírus no cinema, não só para os telespectadores mas principalmente para quem tira seu sustento dessa arte.
China
Primeiro epicentro da pandemia a China também é um consumidor gigantesco de filmes, possuindo 70 mil salas de exibição. Salas essas que foram eventualmente fechadas de modo a desacelerar o contágio.
Os maiores lançamentos eram reservados para a época do ano-novo chinês, importante data comemorativa. Essas festividades movimentavam a economia e o fluxo de pessoas, uma vez que muitos saiam para visitar parentes e turistas também aproveitavam esta data para conhecer o país. Porém em razão da epidemia as comemorações foram canceladas quando estavam registradas 17 mortes em Wuhan, número que viria a subir.
O cenário é ainda pior para os distribuidores. Sem a perspectiva de quando poderão exibir os filmes, essas empresas não tem como manter o capital girando. A alternativa parece ser a venda diretamente para empresas de streaming, mas na China há uma proibição dessa medida com a justificativa de que afetaria o mercado quando houvesse o retorno à normalidade.
Aliado a isto recentemente é perceptível uma busca por aprovação chinesa em grande parte dos blockbusters de Hollywood. Filmes são adaptados de modo a se adequar às rígidas normas de censura do país. Pelo grande número de salas de cinema muitas vezes somente a exibição na China pagava os custos de produção, como ocorreu com Vingadores: Ultimato. O longa teve o orçamento estimado em 356 milhões e obteve 614,3 milhões de retorno, sem contar o resto do mundo.
Adiamentos
Com a expansão do vírus para outras partes do globo os adiamentos também entraram em voga. Velozes e Furiosos 9 foi o mais marcante, sendo realocado para abril do ano que vem. A partir daí cada vez mais filmes mudaram suas datas, gerando um prejuízo grande pelo atraso. Afinal, todos dependem da bilheteria.
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Esses adiamentos também interferem no planejamento do filme e subsequente aprovação do público. As equipes de marketing e de distribuição, com projetos pensados por meses antes da estreia, tiveram seus trabalhos jogados pela janela. 007-Sem Tempo Para Morrer e Viúva Negra já tinham trailers e imagens promocionais divulgadas, porém com a pandemia foi como se esse dinheiro tivesse sido jogado fora. E com o perigo do contágio é provável que menos público compareça as estreias do que normalmente.
Com o fechamento das salas em várias partes do mundo muitos trabalhadores se viram sem emprego e cinemas menores que resistiam contra as grandes empresas correm o risco de cair. As pessoas da produção também não possuem mais maneiras de trabalhar. Esses profissionais que em sua grande maioria vivem entre contratos agora não tem mais uma fonte de renda fixa, especialmente no Brasil onde essa área já vinha sofrendo sucessivos golpes.
Streamings
É possível perceber um aumento crescente na adesão aos streamings como Netflix e Amazon Prime. Recentemente a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas responsável pelo Oscar liberou a participação na premiação para filmes lançados exclusivamente de maneira digital. Até a última edição do prêmio essas obras precisavam passar pelo menos uma semana em exibição em Los Angeles.
O futuro do cinema ainda é incerto. Embora haja uma gradual diminuição nos casos mundo afora é irrealista supor que o mercado volte aos eixos imediatamente. Por enquanto o máximo que podemos fazer é aguardar o momento em que a normalidade retorne. Até lá, vamos de Netflix.