A nova minissérie da Netflix, Estado Zero, foi coproduzida pela atriz Cate Blanchett e busca na Austrália uma nova visão para um problema já abordado em outras produções: o encarceramento. No caso de Estado Zero, acompanhamos os refugiados que chegam ao país buscando um visto de permanência.
A minissérie foi inspirada na história da australiana Cornélia Rau, que fugiu de um hospital psiquiátrico e acabou buscando asilo em um centro de detenção. É através dos olhos de Sofie (Yvonne Strahovski), em Estado Zero, uma referencia a Rau, que acompanhamos a história, mas a visão muda para outros três personagens importantes na trama em alguns momentos.
Clare (Asher Keddie), uma burocrata que trabalha para o governo australiano, Ameer (Fayssal Bassi) e Cameron (Jai Courtney) juntamente com Sofie são os protagonistas dessa história. Esses personagens até então desconhecidos acabam se cruzando no Centro de Detenção Baxter. E é nesse ponto que as histórias se entrelaçam, e nesse ambiente que a partir de alguns flashbacks conheceremos mais sobre a vida dessas quatro pessoas.
Yvonne Strahovski como Sofie
Conhecida por sua atuação como Serena Joy em The Handmaids Tale, Yvonne Strahovski é um dos pontos altos de Estado Zero. Sofie, personagem de Strahovski, é uma aeromoça, que depois de muitas críticas dos pais, joga sua vida toda para o alto, larga o emprego e acaba entrando em uma espécie de culto de auto-ajuda.
No GOPA, Sofie é atraída para um círculo em que ela deve colocar toda a sua confiança a fim de se tornar a melhor versão de si mesmo, segundo os fundadores da organização, Pat (Cate Blanchett) e seu companheiro, Gordon (Dominic West). Logo no primeiros episódios vemos Sofie chegando ao Centro de Detenção se apresentando como Eva Hoffman e vamos, ao longa da trama, entendendo o motivo dela estar ali.
A história da personagem pode apresentar um gatilho, pois a mesma é violentada por Gordon em uma das supostas sessões de ajuda. A cena é forte e acontece no episódio 5 “Panis Angelicus”, apesar disso não tem nenhum aviso da Netflix sobre conteúdo sensível ou possível gatilho.
E assim, se desencadeia toda a trama que envolve Sofie, até o seu colapso mental no final da minissérie. Todos os flashbacks que envolvem a personagem apresentam ao telespectador como o estado emocional e mental dela chegou aquele ponto onde ela se encontra.
Problemas e acertos no enredo
A minissérie apresenta a história de Sofie como o foco central da trama. Porém, apesar de ter sua relevância ela se torna secundária se comparada à trama que envolve Ameer e sua família. Fayssal Bazzi, ator que interpreta Ameer, entrega uma atuação impecável e traz todos os holofotes para si.
Depois das dificuldades que sua família enfrenta para chegar à Austrália, onde o mesmo foi separado de sua esposa e filhas, ele consegue se reunir com Mina, uma de suas filhas, única sobrevivente da viagem. Porém, além da demora para saber notícias sobre quando os dois irão ganhar o visto, outro obstáculo se apresenta para Ameer.
Toda a história que envolve o personagem e sua filha se repete todos os dias com diversas famílias ao redor do mundo. E ao final da série, Ameer enfrenta a difícil decisão de abrir mão de sua filha para que a mesma possa ter um futuro com uma família adotiva.
Além de atribuir caráter secundário à história que mais se encaixa no drama da imigração ao qual a minissérie se propõe. A distribuição entre as tramas de todos os quatro personagens principais acaba prejudicada por conta do enfoque na história de Sofie.
Porém, a visão aplicada aos oficiais é um dos pontos interessantes do roteiro de Estado Zero. Estes acabam sendo mais humanizados através das histórias de Cameron e Clare. Muitas são as falhas no sistema que acabam se refletindo em erros daqueles que trabalham para ele. O caráter daqueles que trabalham no Centro de Detenção é posto à prova em vários momentos. Portanto, ancoram as críticas sobre como o Estado lida com a imigração.
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Imigração e refugiados
Toda a trama da série foca em como o Estado, nesse caso o governo australiano, lida com a imigração. E escancara todos os problemas dos Centro de Detenção e daqueles que deveriam garantir a lei e a segurança dessas pessoas. A questão da imigração é global, e ganha cada vez mais holofotes por conta da falta de humanização no acolhimento dos refugiados.
Em Estado Zero, nos é mostrada como famílias são separadas, pessoas acabam morrendo no caminho e também, toda a burocracia para se conseguir um visto. As condições sub-humanas às quais essas pessoas são submetidas é um dos assuntos tratados pela série, de forma crua e incômoda visando mostrar a verdade que muitos países preferem esconder.
A partir da repercussão da história de Cornélia Rau, que serviu de inspiração para a minissérie, os Centros de Detenção australianos entraram em investigação. A proposta era revisar todo o sistema, que é falho, afim de conseguir oferecer um tratamento mais digno para os refugiados. E também, acelerar seus processos para que os mesmo possam ter uma resposta rápida sobre o visto de proteção pelo qual eles cruzam oceanos.
Cate Blanchett, responsável pela produção e criação de Estado Zero, disse ao The Hollywood Reporter: “Enquanto essa história se centra na Austrália, os dilemas que ela explora através de quatro personagens ressoam globalmente: o desejo de liberdade pessoal, a necessidade de estabilidade social, uma crescente falta de fé na política e o impacto profundamente perturbador que isso tem nas vidas individuais.”
Estado Zero traz à tona um assunto de extrema importância que precisa ser mais discutido e que ainda não tem uma solução definida. E através da história desses personagens coloca quem assiste num posição desconfortável e necessária para que o problema seja encarado.
Todos os episódios da minissérie estão disponíveis na Netflix.