“Becoming“, traduzido para o Brasil como “Minha História“, é o título da famosa autobiografia da ex-primeira dama dos Estados Unidos, Michelle Obama, lançado em 2018. Em maio de 2020, a Netflix acaba de disponibilizar sua mais nova produção que leva o mesmo título, um documentário de aproximadamente uma hora e meia, que nos possibilita conhecer os bastidores do lançamento do livro e os novos caminhos traçados por Michelle após a saída da Casa Branca.
Ao longo do filme acompanhamos a intimidade de uma das mulheres mais influentes do mundo, e pode-se dizer que os motivos para isso tornam-se muito evidentes. Ouvi-la é ouvir sobre confiança em si mesmo e muita coragem. Logo no início somos apresentados ao que ela ouve em sua playlist, o que nos aproxima de imediato e desperta uma curiosidade pelo que vem a seguir.
Vale ressaltar que Michelle não considera que quando seu marido deixou a presidência eles deveriam voltar ao ponto anterior de suas vidas, portanto, não é o que estão tentando fazer. Depois de oito anos de muito trabalho, ela se dedica agora aos jovens, que acredita serem o futuro da nação e do mundo. Nas imagens, é possível ver o carinho e a dedicação que transborda de seus olhos em rodas de conversas com adolescentes, das quais ela participa com frequência. Ouvindo cada um deles com atenção, sem sequer desviar o olhar e trazendo sempre falas extremamente condizentes e inspiradoras, ela carrega um peso emocionante nas palavras.
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A turnê de lançamento de seu livro de memórias ocorreu em 34 cidades americanas, e em cada uma delas haviam entrevistas em frente a um grande e diversificado público, de quem a ex-primeira dama, com sua eloquência e carisma, arrancava risos e lágrimas. A história de sua vida sempre foi um ato de grande resistência, desde quando, por exemplo, ela ingressou e se destacou nas melhores instituições de ensino. Ambientes que sempre lhe disseram serem inalcançáveis, o que ela faz parecer uma grande bobagem com muita elegância. Em alguns eventos Barack Obama também está presente, e o casal relata momentos de sua trajetória juntos, deixando claro que sempre tiveram altos e baixos comuns, mas que a cumplicidade e o respeito sempre venceram.
Uma das características mais marcantes de Michelle é seu protagonismo. Desde a época das campanhas eleitorais de seu marido, ela nunca esteve à sua margem. Sempre ao seu lado, porém com uma presença marcante e individual, que já foi inclusive alvo de muitos ataques da mídia. Mulheres fortes costumam mesmo incomodar. Nunca foi conhecida por ser apenas a esposa de Barack Obama, mas por estar a sua altura em nível intelectual e ideológico. Sua postura firme é o que sempre a tirou do posto de estatística, em sua luta diária para vencer o racismo tão forte que lhe é imposto, a contar do momento em que nasceu em sua pele. Os Estados Unidos já tiveram quarenta e sete primeiras-damas, mas é possível contar nos dedos as que ficaram lembradas pela nação como mais que um cônjuge.
Michelle também conta como foi criar duas meninas dentro da Casa Branca, com valores muito diferentes dos deixados pela família Bush, que mantinham empregados negros e latinos vestindo smokings como uniforme de trabalho. As crianças Obama, mesmo com todo o luxo que tinham ao seu dispor, aprenderam a arrumar o quarto, lavar roupa e cozinhar, o que conta com humor e orgulho: “Elas não iriam morar lá para sempre, e eu não vou criar um filho que não sabe arrumar a própria cama”. O tempo todo somos lembrados de que além de uma figura pública, ela também é uma mãe carinhosa e dedicada.
Um dos momentos mais emocionantes de todo o documentário é uma visita de Michelle a um grupo religioso composto por senhoras negras, que lhe dão conselhos e conversam de forma descontraída e cheia de carinho. Cada uma delas agradece pela representatividade que a família Obama tem desde o momento da eleição, mas sem usar essa palavra. Um diálogo sobre orgulho, amor e que mostra o quanto essa família forte no poder significou para toda a comunidade negra. “A visão de vocês sobre mim é importante. Quando aparecíamos, era para deixar vocês orgulhosos.”.
Os leitores de sua obra também fazem parte do roteiro. Seja em sessões de autógrafo ou conversas mais substanciais, os relatos do público estão presentes e recebem uma atenção muito especial. Um aperto de mão, um sorriso, um incentivo. É impossível assistir até o final sem se sentir tocado pelas palavras de uma pessoa tão forte e inteligente como Michelle. A medida que as pessoas contam suas histórias e suas aspirações, somos levados a conhecê-las de um ponto de vista muito sensível trazido pela direção de Nadia Hallgren, conhecida por seu trabalho que mantém em destaque a comunidade negra e a luta por direitos.
O documentário é por si só uma aula de perseverança e amor ao próximo. Sobre tornar sua história e suas dificuldades a maior fonte de sua força, como Michelle faz todos os dias. Não ouvimos mais, principalmente no momento político em que o mundo se encontra, sobre esperança. E é fundamental ter esperança, para que o longo caminho da busca por igualdade e justiça seja possível de ser seguido, como é necessário. Esta mulher serve de inspiração a qualquer um que tenha um sonho, e nos dá uma razão para acreditar que dias melhores estão por vir, pois ainda existem pessoas com boas intenções e corações cheios de amor.