Título:
Flores para Algernon
Título original: Flowers for Algernon
Autor(a): Daniel Keyes
Páginas: 288
Editora: Aleph
ISBN: 978-85-7657-393-7
Valor médio: R$ 49,90
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Quanto vale a inteligência? Em uma alegoria criada pelo filósofo Platão, o ser humano vive em uma caverna acreditando que as sombras que refletem na parede são o mundo real. Quando um homem conseguiu escapar viu a verdade, entretanto, seus olhos doeram em razão da luz. Ou seja, é uma metáfora para a busca e obtenção do conhecimento, e o quanto este traz dor. Ao longo dos anos, várias histórias seguindo esta premissa foram lançadas, mas nenhuma tão reveladora quanto a de Charlie. Publicado originalmente no formato de conto, Flores para Algernon (Aleph, 2018) traz uma história sobre a própria natureza humana através dos olhos de um personagem cativante.
Charlie Gordon é um homem de 32 anos com deficiência intelectual grave. Ele vive de modo simples trabalhando em uma padaria, porém sente um grande desejo de se tornar inteligente e provar seu valor. Em certo momento, ele é escolhido para ser a primeira cobaia humana em um experimento de aumento de QI. Esse experimento só havia funcionado uma vez com o rato de laboratório Algernon, que demonstrou um intelecto sem precedentes. Após o sucesso a cirurgia de Charlie seu crescimento intelectual traz os resultados que esperava, porém também o leva a uma jornada de autodescoberta e percepção do mundo em que vive.
Primeiramente, é bom destacar os sentimentos que esse livro traz a tona. Embora à primeira vista pareça uma ficção científica comum a história é muito mais do que isso. O protagonista é um homem que de repente toma ciência do que acontecia ao seu redor. Ao mesmo tempo, Charlie re-analisa situações passadas e percebe todo o preconceito a que foi submetido. Empatia é a palavra-chave, e essa persegue Charlie durante toda a obra.
“Cada dia aprendo mais e mais sobre mim, e as memórias, que começaram como pequenas ondulações na água, agora me inundam como tsunamis.”
Simultaneamente, de modo a avaliar o sucesso da cirurgia Charlie é levado a escrever relatórios diários. Nesse sentido, os acontecimentos são narrados em primeira pessoa e assim, conforme a história avança, vemos o crescimento do QI do personagem em primeira mão. Os relatórios, primeiramente cheios de erros gramaticais, passam a ser cada vez mais complexos e profundos. Daniel Keyes sabe trabalhar muito bem as nuances de seu personagem, mostrando um grande controle narrativo.
Charlie é um protagonista forte e doce. O fato de o livro ser narrado em primeira pessoa cria um laço entre ele o leitor. Desse modo, a obra parece uma conversa entre amigos. Acompanhamos todas as descobertas de Charlie, tanto acadêmicas quanto pessoais. E embora o intelecto cresça de maneira assustadora, seu desenvolvimento emocional ainda é fraco, fazendo com que ele não consiga passar por certas situações.
De maneira análoga, há um conflito psicológico muito forte entre os “Charlie’s” pré e pós cirurgia. Em um estilo que lembra O Médico e o Monstro (Companhia das Letras, 2015) Gordon precisa conciliar sua personalidade. Isso levanta o questionamento: o quanto de nós depende da inteligência? Após o experimento Charlie muda gradualmente, distanciando-se cada vez mais do seu eu primário.
“Ele comete o mesmo erro que os outros quando olham para uma pessoa de mente débil e riem porque não entendem que existem sentimentos humanos envolvidos.”
Ademais, quanto aos personagens secundários, a primeira vista eles podem não ser tão interessantes. De fato, o maior aprofundamento é no protagonista. Entretanto, suas relações com os médicos, amigos e principalmente a família faz com que estes ganhem seu pequeno momento ao sol. As reações de cada um ao “novo Charlie” são apresentadas de modo singular.
Por fim, Flores para Algernon é uma obra prima não só da ficção científica como também do drama. É uma leitura intrigante, que faz com que pensemos em nossas próprias ações. Mas se prepare, porque Charlie e Algernon prometem tirar lágrimas até do leitor mais cético.
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