Título:
O príncipe e a costureira
Título original: The prince and the dressmaker
Autor(a): Jen Wang
Páginas: 304
Editora: DarkSide
ISBN: 9786555980103
Valor médio: R$ 79,90
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É bem provável que você já ouviu inúmeras histórias sobre príncipes europeus e plebeias sem qualquer valor social e financeiro que vivem uma linda história de amor contra todas as possibilidades. Na realidade, é essa a trama básica da maioria dos contos de fada que abordam membros da realeza. Ainda assim, você já imaginou uma história em que o príncipe sorrateiramente usa os vestidos da própria mãe e anda disfarçado pela cidade como drag queen? Esse plot é o responsável por transformar O príncipe e a costureira (Darkside, 2020) em um conto de fadas que, apesar de certas similaridades, subverte o modo de contar essas históricas.
O príncipe Sebastian está em busca de uma noiva para ser sua princesa. Ou melhor, os seus pais estão procurando por uma noiva para ele. Enquanto isso, o príncipe parece desinteressado pelas pretendentes e não tem a menor intenção de noivar. O único momento em que o príncipe parece verdadeiramente feliz é quando se transforma em Lady Crystallia, sua drag queen, e desfila disfarçado pelas ruas da cidade. A vida do príncipe muda completamente quando ele conhece Frances, uma costureira pobre com ideias mirabolantes de roupa. O príncipe logo a convida para ser sua costureira, mas, como forma de proteger sua identidade, ninguém pode saber quem a costureira é. O que parece ser a parceria perfeita, logo se torna uma confusão, afinal, o príncipe não parece querer casar, Frances não consegue lidar muito bem com o anonimato e, principalmente, parece que há mais do que amizade rolando entre os dois.
Como explicar para os seus pais, um rei e uma rainha, que você não quer casar, mas adoraria dar close de peruca nas noitadas europeias?
Preciso confessar que não sou um leitor tão frequente de quadrinhos. No entanto, quando vi que a história da autora Jen Wang trazia em sua narrativa um príncipe que dá vida a uma drag queen, não pude resistir. É quase impossível não ler o livro todo de uma vez e não se empolgar com os acontecimentos desde o primeiro capítulo. As ilustrações são perfeitas, os personagens muito bem construídos e a narrativa segue um ritmo contagiante do início ao fim. Sobre esse último aspecto, acredito que parte desse ritmo contagiante parte de dois aspectos bem importantes da história: a subversão da normatividade e o movimento de quebra e permanência com o clichê dos contos de fada.
Primeiramente, sobre essa questão da normatividade, pensar um príncipe que se metamorfoseei em uma dragqueen é, no mínimo, subversivo. A nobreza não é um extrato social muito conivente com essas fugas da normatividade e quando o leitor vê isso se materializando na literatura, o efeito é grandioso, sobretudo por desafiar muito do que nós já lemos ao longo da nossa vida. Além disso, a própria identidade do príncipe é algo a ser pontuado na trama, afinal, por negar diversos casamentos e se vestir de mulher, muitos leitores podem supor que ele é gay. No entanto, a obra vem justamente para mostrar que isso não necessariamente é verdade. De fato, as pistas que nos fazem pensar nisso são guiadas exatamente por um pensamento normativo que deve ser combatido.
Socorro, o príncipe é gilete.
Além disso, o clichê dos contos de fada não é totalmente subvertido. Na realidade, ele é subvertido ao trazer um príncipe que não corresponde aos padrões normativos de masculinidade, mas ainda permanece um tom de felizes para sempre e de o amor salva tudo. Isso, na minha opinião, é um grande trunfo para a obra. Isso porque evidencia que esse gênero também é espaço para aqueles que não atendem às normas e, sobretudo, que essas pessoas também merecem um felizes para sempre. Apesar da utopia dessa expressão (mas isso é assunto para outro momento).
Assim, indico demais esse livro para todo mundo que é fã de quadrinhos, de histórias de príncipes e princesas ou simplesmente para quem quer ver como uma subversão literária acontece. Não preciso nem mencionar que a Darkside fez uma edição impecável, como de costume. Além disso, a obra será adaptada para um musical pela Universal Pictures. Então, antes de conferir a adaptação, que tal se aventurar pela obra em seu formato original?
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