Quando passamos os olhos pelos catálogos de filmes e séries nas mais populares plataformas de streaming, muitos classificam as mais diferentes animações apresentadas como infantis, sem nem ler os resumos. Mas, apesar desse estilo ser o favorito para a produção audiovisual infanto-juvenil, boa parte destes programas são direcionados ao público adulto.
Então, por que as “animações adultas” ainda sofrem com esta barreira de tantos espectadores? Podemos começar pela história deste tipo de produção – e terminar com alguns exemplos que servem para entrar neste mundo.
As primeiras animações e o público infantil
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As primeiras animações surgiram no início do século passado e em 1917 foi lançado o primeiro longa-metragem animado, El Apóstol (O Apóstolo, em português), produzido pelo cartunista argentino Quirino Cristiani.
Curiosamente (ou não) o filme era destinado a um público adulto, pois era uma sátira política do Presidente à época Hipólito Yrigoyen. Apesar da crítica positiva, o longa foi perdido e hoje restam apenas trechos da obra.
Depois da animação de Cristiani, grandes estúdios do cinema mundial passaram a realizar curtas-metragens animadas destinadas às crianças, os famosos cartoons. Dentre os mais notórios, estão Steamboat Willie (1928), de Walt Disney, que foi o curta que lançou o personagem Mickey Mouse, e o Gato Félix (1919), de Otto Messmer e Pat Sullivan.
A volta para o público quase adulto
Mas depois de anos sendo um meio de entretenimento apenas infantil no ocidente, as animações ganharam uma nova dimensão ao aparecer em todos os episódios da série de comédia britânica Monty Python’s Flying Circus (1969 – 1974).
Na série, os sketchs de humor, principalmente político e satírico, eram interrompidos por animações de pinturas clássicas e modernas protagonizando cenas absurdas. A grande influência de Monty Python no universo da comédia mundial gerou inúmeros programas de humor ao redor do globo, mas em 1989 foi lançado outro programa chave para a disseminação das “animações adultas”, Os Simpsons (1989 – presente).
Apesar de ser um humor mais direcionado a todas as idades, e não apenas ao público adulto, as histórias da família amarela inspiraram diversas animações para jovens-adultos e adolescentes. Alguns dos exemplos mais importantes estão South Park (1997 – presente), criadas por Trey Parker e Matt Stone, e Uma Família da Pesada (1999 – presente), criada por Seth MacFarlane.
Nenhuma dessas séries animadas era diretamente apontada para o público adulto, porém foram elas que pavimentaram o caminho para criação do canal Adult Swim, dedicado exclusivamente para desenhos adultos, e para o programa de humor ápice dessa geração de animações adultas, Robot Chicken (2005 – presente).
Robot Chicken e o futuro das animações para adultos
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Com uma comédia extremamente ácida e piadas claramente feitas para um público mais velho, Robot Chicken é alvo de inúmeras críticas. Contudo, com seu estilo de stop-motion inconfundível, a série não tinha uma arte que parecesse infantil, diferentemente das outras animações adultas. Além disso, Robot Chicken mostrou que esse tipo de programa não precisava ser sempre apoiado em piadas escatológicas e podia tratar também de assuntos mais sérios.
Hoje em dia, graças a esses passos tomados em 2005, temos diferentes animações pra gente grande que não seguem essa ideia de humor absurdo. Tanto Bojack Horseman (2014 – 2020), criada por Raphael Bob-Waksberg, quanto The Midnight Gospel (2020 – presente), criada por Duncan Trussell, são animações adultas que tem enredos e humor mais profundos.
Além de recentes, essas séries miram em um público adulto que não necessariamente está acostumado a acompanhar desenhos, ou tratá-los seriamente. Mas, como ainda são comédias, acabam perdendo a percepção de muitos como programas sérios. Então, precisamos tratar de obras animadas que não são cômicas e ainda são destinadas ao público mais velho.
Nem tudo precisa ser comédia
Começando em 1985, com a fundação do Studio Ghibli, no Japão por Hayao Miyazaki, que foi um marco na produção de animações com temas adultos em todo o mundo e inspirou uma horda de escritores para realizarem suas obras em animação. Dentre esses que foram inspirados pelo estúdio japonês, estão o chinês Haoling Li, diretor do longa-animado O Sabor da Juventude (2018), o francês Jérémy Clapin, diretor do curta Perdi Meu Corpo (2019), e Tim Miller, criador da série Amor, Morte & Robôs (2019 – presente).
Todos estes exemplos são apenas uma pequena parte do universo das animações adultas. Mas esse tipo de produção ganhou tanta notoriedade que a Netflix, por exemplo, tem hoje uma seção em seu catálogo dedicada exclusivamente a eles. Mesmo assim, os desenhos pra gente grande ainda tem muitas barreiras para enfrentar e se fixar como uma obra séria pela maior parte dos telespectadores.