Título:
Como eu era antes de você
Título original: Me before you
Autor(a): Jojo Moyes
Páginas: 320
Editora: Intrínseca
ISBN: 978-85-8057-924-6
Valor médio: 39,90
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Ah, o amor… O amor inspirou ao longo dos séculos e de várias civilizações os instintos mais primitivos dos seres-humanos e foi também, sem dúvidas, a força motriz que fez surgir a maioria das grandes obras-de-arte. As histórias de amor são as mais diversas na nossa Civilização Ocidental, responsáveis por emocionar cada geração e tocar/representar os apaixonados em suas mínimas peculiaridades. Cada obra romântica nos presenteia com uma realidade diferente em que o amor aparece, sempre uma boa oportunidade de ver como as pessoas lidam com esse sentimento que pode ser tão paradoxalmente, como já demonstrava Camões, um fogo que arde sem se ver/um contentamento descontente. Dentre essas obras é claro que existem aquelas em que o amor é representado como algo bobo e fantasioso, bem longe da nossa realidade. Felizmente, Como eu era antes de você (Intrínseca, 2013) foi o contrário, foi um daqueles livros que vêm, te dão um soco no estômago e te deixam com a dor por um longo tempo… assim como o próprio amor.
É óbvio que amor e mudança estão intimamente atrelados, afinal é na tentativa de conquistar alguém que mudamos, crescemos, nos comprimimos, adaptamos e uma série de outros feitos para que a combinação com o outro seja a mais perfeita possível. E é nessa perspectiva que surge o título dessa obra, em que Lou Clark narra sua trajetória como era antes de conhecer Will Traynor e após isso. Bom, Louisa é uma moça como muitas outras. Como sua irmã mais nova teve filho muito nova e seus pais não possuem uma situação financeira muito estável ela trabalha desde cedo para ajudar nas contas domésticas. Um café perto de um castelo que é ponto turístico da cidade foi o local de trabalho da moça por um longo tempo. Ela adorava servir xícaras de café e bolinhos aos turistas que apareciam ali e aos moradores da cidade que iam até lá com uma certa frequência.
Lou acaba sendo despedida quando o café fecha as portas e entre inúmeras possibilidades de emprego acaba aceitando uma vaga de cuidadora de deficiente. Esperando alguém incapacitado e sem qualquer atrativo, ela acaba encontrando Will, um rapaz bonito de uma família rica que precisou largar sua vida como grande empresário após sofrer um acidente e ficar tetraplégico. Amargurado e cansado da vida na cadeira de rodas, o rapaz faz da vida de Lou um inferno, até que pouco a pouco vão se aproximando e levando a amizade a locais até então inimagináveis para ambos.
Depois desse resumo é de se esperar que a obra seja não só romântica, mas também demasiadamente dramática. Entretanto, o que mais fiz durante a minha leitura foi fechar o livro para dar boas risadas. Calma, não sou um sádico que se regozija com o sofrimento alheio (ou sou). A questão é que Lou é, sem dúvida, uma personagem extremamente bem construída e, sobretudo, muito engraçada. Seu jeito atrapalhado consegue ser fofo e simpático, sendo impossível não querer ser amigo dela.
Por outro lado, Will é um tremendo estúpido no início – o que é extremamente perdoável tendo em vista o que passou. É importante ilustrar isso para que se perceba a harmonia criada pela autora ao trazer um assunto pesado e conseguir equilibrar sua história com uma personagem engraçada e situações que dão leveza aos acontecidos.
Esse é um daqueles livros que eu já não aguentava mais as pessoas dizerem que eu precisava ler – o que tem acontecido frequentemente desde que minha média de leitura diminuiu nos últimos meses. Como eu era antes de você foi um daqueles livros que se tornou febre pelo efeito que causa em quem lê – assim como aconteceu com outros romances, como Um Dia (Intrínseca, 2011).
Confesso que por muito tempo não me empolguei tanto com a leitura por uma razão bem simples: não há algo inovador. Ora, uma história que trate de um romance entre uma cuidadora e um deficiente não é algo novo nem de longe, quantas vezes já não vimos isso em filmes e outros livros? Mas a verdade é que subestimei a capacidade de Jojo Moyes inovar um tema tão recorrente e, felizmente, a autora me mostrou que por muito tempo deixei de ler um grande livro. Jojo é uma mestre na escrita por saber, justamente, a melhor forma de inserir e equilibrar as coisas. A leitura desse livro flui de uma forma mágica como se o leitor estivesse enfeitiçado, o que pode ser até doloroso já que mesmo com tantas pancadas da história a vontade de continuar lendo permanecerá.
Tenho que confessar o que mais me chamou atenção e emocionou na narrativa, e acreditem, não foi exatamente a relação da Lou com o Will. Na verdade, o que mais me emocionou foi o triângulo que acontece até certo momento – tendo em vista que a Lou tinha um namorado antes de ir cuidar do Will. Mario Quintana disse que “O amor só é lindo, quando encontramos alguém que nos transforme no melhor que podemos ser.” É exatamente isso que se concretiza e muito representa as relações do mundo real. É bem verdade que conheceremos muitas pessoas no mundo e, obviamente, há uma chance de se apaixonar por muitas delas e até de amar muitas delas. No entanto, nem sempre amar é tudo, e na relação da Lou com seu ex-namorado isso é muito perceptível. Esse aspecto da história me apunhalou mais do que todas as outras coisas, afinal, para mim sempre ficou evidente o destino do Will, mas não tinha certeza até que ponto a Lou iria por si mesma.
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[PODE CONTER SPOILER] O livro tem um foco muito forte na situação de Will Traynor, ainda assim, creio que a questão do livro não está aí, e sim na personalidade da própria protagonista. Na verdade, Will não estava ali para ser o grande amor dela, mas sim o seu farol. Foi após a relação pequena dos dois que Lou conseguiu se enxergar melhor e ver seu potencial para além do que ela achava ser. Will foi, portanto, o que ele deveria ser, a representação perfeita do que é o amor. De longe acho que ele não foi egoísta, na verdade, ele deu a maior prova de amor que podia: abrir os olhos de Lou e permitir que ela fosse feliz com alguém que pudesse lhe oferecer mais possibilidades do que ele. Will foi o mapa do tesouro de Lou. E o tesouro, foi encontrar a ela mesma.