Título
: A cantiga dos pássaros e das serpentes
Título original: The ballad of songbirds and snakes
Autor(a): Suzanne Collins
Páginas: 576
Editora: Rocco
ISBN: 978-65-56670-00-3
Valor médio: R$ 59,90
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Lançado em 2008 o livro Jogos Vorazes (Rocco, 2008) criou uma legião de fãs, ganhando duas sequências e uma franquia no cinema sobre a história de Katniss Everdeen. Após a estreia do último filme esse universo permaneceu quieto até o ano passado, quando Suzanne Collins anunciou que estaria escrevendo um novo livro ambientado em Panem. Logo, surgiram as especulações sobre qual seria o personagem central da narrativa. Seria Finnick contando seus anos de abuso na Capital, ou Haymitch narrando os detalhes sangrentos que o tornaram vitorioso no terceiro Massacre Quarternário? Com todas as apostas girando ao redor de ex-tributos foi uma grande surpresa quando saiu a notícia de que o protagonista seria ninguém menos do que o presidente Snow. O medo de uma romantização do personagem tomou a internet. Porém, A cantiga dos pássaros e das serpentes (Rocco, 2020) mostra a trajetória de um tirano e as consequências da guerra.
Á primeira vista, temos um país recém-saído de uma guerra civil. Com os distritos no lado perdedor, a Capital encontrou uma forma de retaliação nos Jogos Vorazes. Contudo, a popularidade é baixa, então é criado o sistema de mentoria para tentar deixar os tributos vivos por mais tempo e, consequentemente, aumentar a audiência do programa. Os mentores escolhidos para o início do projeto são os melhores (e mais ricos) alunos da Capital. E é aí que surge Coriolanus Snow, um adolescente de 18 anos prestes a se formar na Academia e sem absolutamente nenhum centavo para pagar a Universidade. Ele vê nos jogos uma maneira de recuperar a honra da casa Snow e não mede esforços para alcançar seu objetivo, mesmo que seu tributo seja do distrito menos favorável.
“Ambição o alimentará”
Desde já, é bom deixar claro que essa não é uma história focada nos Jogos Vorazes, elas só são o pano de fundo de uma trama maior envolvendo política. Há um amadurecimento da narrativa que talvez não agrade os leitores que vão atrás de um espetáculo memorável na arena. Ou seja, não é uma história sobre os tributos, é sobre a Capital e Panem como um todo. Frequentemente trazendo várias semelhanças com o mundo atual. Sendo assim, os questionamentos de humanidade são o ponto principal, e levado do ponto de vista de um personagem que simplesmente não se importa com eles.
Coriolanus é detestável. Não há maneira de argumentar contra isso, o garoto é simplesmente insuportável. Pelo fato de a narração ser em terceira pessoa há um certo distanciamento dele, o que é bom visto que mais um pouco e eu arrancava as páginas de ódio. Simultaneamente há breves momentos onde a infância dele é contada, porém qualquer sombra de empatia que possa ser sentida pelo leitor é tirada logo no parágrafo seguinte quando ele volta a desprezar tudo e todos. Ele já é um manipulador, porém ainda falta muita experiência para que ele se torne o ditador que vimos 64 anos a frente.
“Competição o conduzirá”
Um ponto muito interessante é Sejanus. O rapaz sente uma conexão com os tributos, criando um contraponto a postura de Coriolanus (e toda Capital) de superioridade em relação aos mais pobres. Eles são extremos opostos, lados diferentes de uma mesma moeda. Sejanus deseja mais do que tudo se ver livre dos jogos de Panem, enquanto Snow almeja toda a fama que ele tem.
Agora, a personagem mais intrigante. Lucy Gray Baird é o tributo feminino do distrito 12 e designada para a mentoria de Snow. Ela prende a atenção logo na Colheita, e sua fama só tende a crescer com o passar do tempo. Ao passo que os Jogos ainda são um conceito novo ainda ao existe nada do luxo que Katniss presencia em sua jornada para a arena. Ou seja, há uma clara distinção entre os cidadãos da Capital e o povo dos Distritos, que só se intensifica com o passar da trama. Lucy tem uma personalidade envolvente (e uma história ainda mais), e são personagens como ela, Tigris e Sejanus que fazem com que o leitor não desista da história.
“Mas o poder tem seu preço”
Em contrapartida, um ponto negativo muito forte no livro é a enrolação. Havia detalhes demais sobre eventos em que não havia necessidade, e frequentemente parecia que a história andava em círculos. Por outro lado, isso é compensado com vários momentos de ação espalhados no início com o intuito de prender o leitor. Em suma, a quebra continua de ritmo adicionada com a personalidade horrível de Snow fazem com que a história demore a engatar.
Por fim, quanto às conexões com a trilogia original, elas estão espalhadas por todo o livro, e um observador mais atento pode vê-las chegando e conectar a fatos que acontecem décadas depois. Se Katniss acedeu a fagulha é porque a fogueira já estava preparada a muito tempo. Assim, como diria o meu personagem favorito, o show só acaba quando o tordo canta.
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